segunda-feira, 23 de abril de 2012

Projeto: Em defesa do planeta


Objetivos de longo prazo
Os especialistas são unânimes em afirmar que a Educação Ambiental deve ter objetivos de longo prazo. Promover uma festa pelo Dia da Água pode até ser interessante ou divertido para as crianças, mas é pouco. A comemoração, dizem esses professores, não pode ser o objetivo fim, mas um meio para compartilhar os conhecimentos. O mesmo vale para atividades simbólicas, como plantar árvores.

Muito mais importante do que a ação em si é explorar com os alunos como o desmatamento afeta a vida em sua cidade, por exemplo. "Assim, eles vão perceber que o plantio das mudas é só uma pequena parte do que é preciso fazer para restaurar nossas matas", explica Sueli Furlan, professora da Universidade de São Paulo e selecionadora do Prêmio Victor Civita Educador Nota 10.

"E vão entender que esse é um trabalho para a vida toda, não se resume a iniciativas pontuais." Da mesma forma, de nada adianta montar uma horta e depois não mantê-la. Ou separar o lixo na escola e depois não ter como dar fim a ele. "Não é difícil perceber que mais importante do que sugerir um projeto de coleta seletiva localizado é pensar numa campanha para pressionar vereadores a organizar melhor todo o trabalho de coleta na cidade", exemplifica Sueli.

Em Balneário Camboriú, no litoral de Santa Catarina, o trabalho contínuo de Educação Ambiental na rede municipal vem dando cada vez mais resultados. Desde 1999, a prefeitura investe na capacitação de professores e no desenvolvimento de projetos de médio e longo prazo. Graças à experiência dos anos anteriores, a EM Jardim Iate Clube consegue fazer da reciclagem uma realidade para toda a equipe de alunos e professores.

O trabalho funciona bem, entre outras coisas, porque tem a efetiva participação de outras instituições da sociedade civil. Aliás, foram essas organizações que criaram o movimento ambientalista e acabaram por chamar a atenção de toda a sociedade para a importância de defender a natureza. Em muitos casos, foram justamente as ONGs que criaram atividades para usar em sala de aula.

A pedagoga Patrícia Otero, especialista em meio ambiente e diretora do 5 Elementos, que atua no setor há dez anos, dá um exemplo de como inserir temas ambientais em classe. "Não basta trabalhar só as informações encontradas na mídia", diz. "É preciso descobrir meios de associar esse conhecimento à realidade local e entender como a comunidade lida com a questão da água. Ao aprofundar-se no tema, os jovens vão conseguir propor reflexões e ações positivas.
"
Ação integrada à comunidade
Entender a realidade e atuar para transformá-la. Foi exatamente isso que os estudantes da EMEF Teófilo Benedito Ottoni, em São Paulo, fizeram. A escola fica junto a uma área remanescente de mata Atlântica e, quatro anos atrás, associou-se a outros agentes da sociedade civil para lutar contra a derrubada das árvores para a construção de prédios. A mobilização levou os jovens a participar de protestos e escrever cartas para as autoridades.

O resultado: o local acabou transformado num parque. "As escolas são espaços privilegiados de formação e a Educação Ambiental é a forma de interagir diretamente com a comunidade e operar mudanças na sociedade", diz a antropóloga Lucila Pinsard Vianna, coordenadora da Câmara Técnica de Educação Ambiental do Comitê de Bacias do Litoral Norte de São Paulo.

Batalhar por melhorias na infra-estrutura do bairro, promover palestras e convocar as famílias, as associações de moradores e os representantes de sindicatos e outras associações para debater os problemas e as possíveis soluções são outras formas eficientes de envolver os alunos em atividades que certamente ficarão marcadas na vida deles.

Na EE Professora Josepha de Sant'Anna Neves, em São Sebastião, no litoral paulista, a questão ecológica ganhou tanto espaço que a escola se tornou uma referência de qualidade na região. Tudo porque a equipe vem atuando há vários anos (e de forma coordenada) para promover reformas nas instalações e manter hortas e jardins sempre muito bem cuidados.
 Contextualizar os conteúdos
Por que o trabalho funciona:

- O meio ambiente é tratado de forma transversal ao currículo.
- O tema é explorado ao mesmo tempo que a cultura afro-brasileira, importante na realidade local.
- A paisagem urbana é considerada objeto de estudo para que a turma entenda a relação entre a natureza e os impactos causados pelo homem.

Aberta no ano passado, a EM Malê Debalê fica próxima à lagoa do Abaeté, em Salvador. E o local, cartão-postal da cidade e um rico elemento da paisagem para os moradores do bairro, serviu de palco para atividades de Educação Ambiental com crianças de Educação Infantil, 1a e 2a séries. Com um elemento extra, de grande atrativo para as crianças: a inclusão do tema diversidade racial (no caso, os orixás da cultura afro-baiana e sua relação com a natureza) como fonte de pesquisa.

A cada 15 dias, as turmas visitavam a lagoa para fazer observações: plantas, animais e elementos estranhos à paisagem (principalmente o lixo). Muitos foram conhecer um aterro para entender o caminho dos detritos. Em classe, as tarefas incluíram redações. "Qual é o ar que quero respirar?" e "como é a água que eu quero beber?" eram dois dos temas. E as famílias foram chamadas a descrever o lugar no passado e sua transformação no que é hoje.

Os orixás entraram no trabalho para mostrar a religiosidade como parte importante de qualquer cultura, conforme explica a professora Isiane Silva. "A ligação do candomblé com a natureza é grande. Por isso, usamos o projeto para ensinar as crianças a respeitar as manifestações religiosas e a paisagem." Para tanto, eram feitas associações: se a água é o elemento de um determinado orixá, o que é preciso fazer (pelas águas) para deixá-lo satisfeito.

"Essa relação entre o candomblé e a natureza ajudou a formar, nos alunos, novas representações sobre o meio ambiente", avaliza a especialista Sueli Furlan, de São Paulo. "No fim, todos passaram a valorizar a lagoa e a riqueza que ela representa para o bairro e entenderam por que é preciso cuidar dela", diz Isiane. E a Malê Debalê assumiu uma nova missão: reunir outras escolas do bairro para discutir ações capazes de garantir a proteção do lugar.

A realidade local em foco
Por que o trabalho funciona:

- Um tema ligado à realidade local é o ponto de partida.
- Especialistas partilham conhecimentos com professores, alunos e membros da comunidade.
- As discussões nascidas na escola geram mudanças de atitude em relação ao meio ambiente.
- Os jovens realizam experiências de iniciação científica, com observação, coleta de água e discussões.

Cercada de palmeiras de açaí, a EM Maria Flora Guimarães é uma escola rural e multisseriada a 45 minutos de lancha de Benevides, no interior do Pará. Nessa região de floresta, muitos ribeirinhos não entendem por que é preciso ferver a água antes de bebê-la para matar as impurezas e cuidar da natureza (acham que o "rio nunca vai secar", por exemplo). Para conscientizar os alunos e a comunidade, a professora Elielza Silva Prata criou o projeto Água, um Bem Finito.

Como não conhecia muito o assunto, ela convidou especialistas para falar aos moradores sobre erosão, assoreamento, poluição etc. Os estudantes, numa espécie de iniciação científica, colheram amostras de água em diversos pontos do igarapé próximo à escola durante seis meses. Eles avaliaram diferenças de coloração e a quantidade de sujeira e associaram essas informações aos pontos da coleta (onde há trânsito de barcos, por exemplo, sobra óleo diesel).

Na sala de aula, ficou fácil entender por que nem toda água é própria para o consumo. "O trabalho ajuda a população a tomar mais cuidado com o igarapé", festeja a professora, que montou um herbário a pedido das crianças. As famílias contribuem com informações sobre as plantas - e a herança cultural se manterá viva graças aos alunos de Elielza.

As ONGs têm um papel importante no debate ambiental, dentro e fora das escolas, fortalecendo principalmente a Educação não formal por meio de campanhas na mídia e da criação de materiais paradidáticos e atividades para alunos de todas as séries. O Instituto Mamirauá (com sede em Tefé, na região do Alto Rio Negro, no Amazonas) já está no quarto curso de Educação Ambiental voltado para professores da rede pública (cerca de 60 escolas são atendidas, num local onde há poucas opções de formação para os docentes).

A ONG também discute com o Estado a formação de uma política pública para o tema. Em São Paulo, o Instituto Verdescola auxilia no planejamento de cinco instituições públicas de ensino e uma particular. Além de capacitação para professores, funcionários e pais, a ONG acompanha essas escolas durante o ano inteiro, participando da construção de projetos. Biólogos e pedagogos também dão aulas temáticas dentro da própria grade curricular.

Os jovens como protagonistas
Por que o trabalho funciona:

- A escola é um dos diversos parceiros do município, que tem uma política clara de Educação Ambiental.
- Alunos monitores multiplicam o conhecimento entre todos os estudantes.
- Em parceria com outras entidades, a escola realiza a reciclagem do lixo e reaproveita boa parte desse material.

Desde 1999, as escolas municipais de Balneário Camboriú, no litoral catarinense, contam com um programa de Educação Ambiental. Batizado de Terra Limpa, ele é uma parceria das secretarias de Meio Ambiente e de Educação e envolve parceiros de diversos setores. No caso da reciclagem de papel, por exemplo, uma cooperativa recolhe o material, que depois é transformado em artesanato e comercializado num parque da cidade.

Cabe à escola pensar em projetos próprios, que recebem todo o apoio necessário das equipes do Terra Limpa. Na EM Jardim Iate Clube, a principal ação é um projeto de reciclagem. Todo o lixo é separado. Plásticos e latas se transformam em brinquedos, o material orgânico vira adubo e o papel vai para a cooperativa. "Os estudantes acabam entendendo a importância de reciclar, tanto do ponto de vista ambiental como do social", destaca a pedagoga Patrícia Otero.

Além disso, o professor é responsável por um grupo de 15 alunos-monitores, que têm a missão de multiplicar os conhecimentos sobre meio ambiente dentro da escola. Eles ajudam a desenvolver gincanas, constroem painéis para sensibilizar os colegas e organizam as oficinas de produção de brinquedos. A garotada chega a dar palestras para os moradores do bairro sobre temas como lixo e aquecimento global. Este ano, várias classes estão recolhendo algas de um manguezal próximo para analisar o impacto da poluição sobre as águas

Por que o trabalho funciona:

- Professores, alunos e a comunidade são mobilizados e intervêm na realidade, estimulando o protagonismo infanto-juvenil.
- Em sala de aula, a questão ambiental é trabalhada junto com aspectos sociais, como saúde e qualidade de vida.
- Todas as ações são registradas, o que permite replicar a experiência em outros locais.

Tudo começou em 2003, quando a Associação Amigos do Parque Ipê procurou a EMEF Teófilo Benedito Ottoni para promover ações em conjunto para proteger uma área de mata Atlântica vizinha à escola, em São Paulo, que corria o risco de ser derrubada para a construção de prédios. Três anos depois, o lugar virou um parque graças ao envolvimento de professores e alunos, que participaram de diversas atividades.

O primeiro passo foi fazer trilhas pela mata e conhecer melhor a fauna, a flora e a paisagem. Em classe, diversas disciplinas passaram a tratar do tema na abordagem de conteúdos de Ciências e Geografia (como urbanização e transformação dos espaços) e na produção de textos sobre preservação ambiental nas aulas de Língua Portuguesa, para ficar em dois exemplos.Além dos estudos do meio, todos aprenderam a lidar com questões sociais e de cidadania: descobriram o que são ações civis públicas, como funciona a Assembléia Legislativa, como organizar e participar de atos públicos.

As atividades de escrita e leitura ganharam mais sentido com o envio de cartas e e-mails cobrando de autoridades e instituições uma posição sobre a área verde. "A cidade ganhou um parque e os estudantes tiveram a chance de fazer parte do processo, percebendo que o conhecimento pode ultrapassar os muros da escola e mudar a realidade", diz a coordenadora pedagógica, Maria Cristina Franco. A luta agora é para garantir a efetiva implantação do parque, com uma infra-estrutura adequada, pois a Teófilo Ottoni passou a integrar o conselho gestor da área.


Por que o trabalho funciona:

- Há forte investimento na formação dos professores.
- As preocupações com o meio ambiente estão vinculadas à reconstrução da identidade da escola.
- A continuidade do projeto permite que a escola seja uma "referência verde" para a comunidade.
- Anualmente, uma Feira Verde é organizada, apresentando produtos feitos por alunos e professores, palestras e atividades culturais sobre meio ambiente e sociedade.

"De nada adianta os professores entenderem os grandes temas ambientais, como mudanças climáticas e reciclagem, se não trabalharem as relações humanas e as conseqüências de nossas ações sobre o meio", diz Marilda Massucato Braga, diretora da EE Professora Josepha de Sant’Anna Neves, em São Sebastião, no litoral paulista. Visitar a escola significa encontrar corredores limpos, uma horta organizada, muros livres de pixações e professores satisfeitos.

O sucesso do trabalho é fruto, sobretudo, da continuidade. A escola passou a ser de tempo integral em 2003. Foi nessa época que a equipe docente percebeu que era preciso ampliar os horizontes de trabalho e que entrou em cena o conceito de ecopedagogia, criado por Francisco Gutiérrez. "Essa filosofia associa o desenvolvimento da consciência ecológica à Educação e vê três vertentes para o tema: a ambiental, a pessoal e a social", explica Marilda.

Graças a outras capacitações, criou-se uma cultura de trabalhar de forma colaborativa com os estudantes. Nas oficinas, que vão de contação de histórias a teatro, música e informática, os jovens passaram a ter contato não só com as grandes questões ambientais, mas puderam refletir sobre como melhorar o entorno. Hoje, um dos projetos mais esperados é a Feira do Verde, evento aberto à comunidade com palestras, apresentações culturais e peças de artesanato feitas com material reciclado pelos próprios alunos e professores.

Por que o trabalho funciona:

- Há forte investimento na formação dos professores.
- As preocupações com o meio ambiente estão vinculadas à reconstrução da identidade da escola.
- A continuidade do projeto permite que a escola seja uma "referência verde" para a comunidade.
- Anualmente, uma Feira Verde é organizada, apresentando produtos feitos por alunos e professores, palestras e atividades culturais sobre meio ambiente e sociedade.

"De nada adianta os professores entenderem os grandes temas ambientais, como mudanças climáticas e reciclagem, se não trabalharem as relações humanas e as conseqüências de nossas ações sobre o meio", diz Marilda Massucato Braga, diretora da EE Professora Josepha de Sant’Anna Neves, em São Sebastião, no litoral paulista. Visitar a escola significa encontrar corredores limpos, uma horta organizada, muros livres de pixações e professores satisfeitos.

O sucesso do trabalho é fruto, sobretudo, da continuidade. A escola passou a ser de tempo integral em 2003. Foi nessa época que a equipe docente percebeu que era preciso ampliar os horizontes de trabalho e que entrou em cena o conceito de ecopedagogia, criado por Francisco Gutiérrez. "Essa filosofia associa o desenvolvimento da consciência ecológica à Educação e vê três vertentes para o tema: a ambiental, a pessoal e a social", explica Marilda.

Graças a outras capacitações, criou-se uma cultura de trabalhar de forma colaborativa com os estudantes. Nas oficinas, que vão de contação de histórias a teatro, música e informática, os jovens passaram a ter contato não só com as grandes questões ambientais, mas puderam refletir sobre como melhorar o entorno. Hoje, um dos projetos mais esperados é a Feira do Verde, evento aberto à comunidade com palestras, apresentações culturais e peças de artesanato feitas com material reciclado pelos próprios alunos e professores.

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